PRINCIPAIS ERROS ENCONTRADOS, NO PROCESSO DE CALIBRAÇÃO, DURANTE AS AUDITORIAS DE SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE.

Durante as auditorias de Sistema, vários erros são encontrados no processo de calibração, dos quais vamos tratar de alguns mais importantes:

1º Erro: Como sempre o Certificado de Calibração é um dos principais erros encontrados, geralmente por falta de informações importantes, tais como: identificação de instrumentos de forma a manter a rastreabilidade, identificação dos padrões utilizados, medições individuais, médias das medições e ausência de informações de incertezas, entre outras.

Porém todas estas informações, ou seja, as mínimas que devem conter um certificado estão definidas na ISO/IEC 17025:2017, portanto é importante conhecer estes requisitos para que você possa interagir com os laboratórios de calibração e obter o melhor serviço, adequado as suas necessidades.

2º Erro: Outro aspecto importante esta relacionado à faixa de calibração dos instrumentos e equipamentos, quando não é indicada a faixa de calibração pretendida, normalmente o Laboratório adota a faixa padrão aprovada nos seus procedimentos internos. Portanto como boa prática seria importante informar a Faixa de calibração em função do processo no qual o instrumento é utilizado, principalmente quando instrumento é dedicado a uma faixa medição no processo.

Exemplo: Calibração de um termômetro digital de faixa de 0°C a 1000°C normalmente se não for definida a faixa de calibração o laboratório irá dividir a escala por 3 , 5 ou 10 dependendo do seu procedimento, e executar a calibração da seguinte forma:

1º caso: 0°C / 300°C / 600°C / 1000°C

2º caso: 0°C / 200°C / 400°C /600°C / 800°C / 1000°C

3º caso: 0°C / 100°C / 200°C / 300°C/400°C / 500°C / 600°C / 700°C/ 800°C / 900°C / 1000°C.

Agora vamos imaginar que os parâmetros de seu processo esteja estabelecido entre 650°C e 750°C, neste sentido a calibração do 1º caso pouco serviria, pois os intervalos de calibração são muito abertos.

No 2º caso o processo seria um pouco melhor, porém ainda fora faixa de trabalho. Então neste exemplo, o 3º caso seria a condição mais adequada que poderíamos adotar, porque há 3 pontos de calibração próximos da faixa de trabalho ou seja: 600°C; 700°C; 800°C.

Mas ainda teríamos outra opção; que seria indicar ao laboratório a faixa na qual, necessitamos a calibração, ou seja, 650°C e 750°C, assim poderíamos adotar uma calibração:

4º caso: 0°C / 600°C / 650°C /700°C / 750°C /800°C.

Este tipo de processo é perfeitamente aceitável com instrumentos dedicados a uma faixa de trabalho e em muitos casos mais econômicos, pois a quantidade de pontos de calibração podem ser menores e mais alinhados as necessidades.

3º Erro: Outro ponto importante é a não consideração da Incerteza de Medição declarada no certificado para a aceitação do Instrumento, quando comparada com o Critério de Aceitação.

O Certificado de Calibração normalmente apresenta o erro médio e a incerteza de medição.

Com estes dois valores podemos obter o erro total do instrumento; e assim decidir pela sua aceitação ou não, quando comparado com o critério de aceitação.

O erro e a incerteza de medição estão relacionados aos erros sistemático e aleatório e têm influência direta na precisão e exatidão dos instrumentos de medição, respectivamente.

Na tabela acima podemos ver que o ponto de 90 mm da face externa, por exemplo, apresenta erro nulo, porém, apresenta a maior incerteza, 0,09mm.

Portanto, é importante gravar a ideia de que um instrumento de medição preciso e exato, repete bem e praticamente não apresenta erros. Como conclusão instrumentos com incertezas maiores tem menor exatidão, e consequentemente menor capacidade de repetir medidas. Este aspecto pode ser evidenciado por uma calibração do instrumento.

4ª Erro: A Não Definição de Critério de Aceitação, de forma adequada, levando em consideração as tolerâncias de produto e processo.

É comum verificarmos que os critérios de aceitação dos instrumentos/equipamentos são definidos levando somente em consideração informações de fabricantes, desconsiderando as informações de tolerâncias de produtos e processos. Quando isso ocorre, existe uma grande chance de que instrumento/equipamento, seja considerado muito rapidamente, como não adequado ao uso, em função de não atender as especificações de fabricação. Porém esta condição pode ser redefinida de forma que cada instrumento/equipamento de medição e teste, tenha o seu critério de aceitação definido em função das medições e das tolerâncias de produto e processo, as quais o instrumento irá medir. A única exceção é quando existe uma legislação específica que determina que a calibração deva seguir conceitos e requisitos das normas de Metrologia Legal, por exemplo: Balanças quando esta relacionada à pesagem de produtos para o consumidor final (sujeito ao código do Consumidor).

O critério de aceitação pode ser expresso em valores absolutos ou porcentagem, considerando ou não o fundo de escala do instrumento/equipamento, porém para esta definição podemos adotar alguns conceitos como segue:

1º passo

Importante é saber qual tolerância que o instrumento deve atender para realizar a medição.

Exemplo: medição de uma peça de 100 mm e a tolerância é de ± 0,5 mm. O intervalo desta tolerância é de 99,5 mm até 100,5 mm.

(Fonte CANAL METROLOGIA )

Exemplo 1:

1ª peça = 99,8mm, 2ª peça = 100,3 mm e 3ª peça= 99,4 mm.

Conforme figura abaixo, somente a peça 3 esta fora do intervalo

Esta medição foi feita sem considerar o erro total (erro do certificado + incerteza de medição) de um instrumento de medição, o que não ocorre no dia a dia.

2º passo

Calcular o intervalo total da tolerância,

Intervalo Total = Lim sup – Lim Inf -> 100,5 – 99,5 = 1,0 mm
Intervalo Total = 1,0 mm

Com o intervalo total calculado podemos passar para o 3º passo, que é o calculo do critério de aceitação de um instrumento de medição.

3º passo

Vamos dividir o intervalo de tolerância (1,0 mm) por 10:

Normalmente calculamos o critério de aceitação dividindo a menor tolerância de um determinado processo por 3. Este é um dos métodos mais utilizados hoje em dia. Veja a figura abaixo

Avaliando os dois gráficos acima podemos concluir que, quanto menor o divisor maior a zona de duvida (representada pela cor vermelha), sendo assim, valores abaixo de 10 pode deixar o sistema de medição mais barato, porém com maiores chances de reprovar peças boas ou aprovar peças ruins.
Já valores acima de 10 podem encarecer demais o sistema de medição.

Assim o instrumento que precisamos (mais adequado) para medir esta tolerância deve ter um erro total de 0,1 mm. (erro + incerteza).

Espero com esse artigo, ter contribuído para melhorar os conceitos no processo de calibração.

Pedro S. Rocha Jr.

Engº Mecânico – Auditor IATF
Membro da GS Gestão Sustentável Consultoria e Treinamento Ltda.
07/05/2020
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